Rafael Bucco
07/08/2014 – Existem no Brasil 68,3 milhões de domicílios com televisão. Desse universo, 33,3%, ou 22,7 milhões de casas, têm acesso a canais de TV por assinatura. Nem todos, porém, são legítimos. A Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA) revelou hoje que 18,6% dos lares com TV paga recebem, na verdade, sinal clandestino – recorrem a serviços não constituídos formalmente, que se utilizam de sinal furtado, ou usam dispositivos para captura ilegal de sinal. O número representa 4,19 milhões de lares.
A pesquisa mostra que 0s piratas são mais presentes no interior do país, onde 45% das pessoas afirmam assistir a canais de TV paga de modo clandestino. Nas regiões metropolitanas, o índice é de 32%. Pelo recorte social, as classes DE recorrem mais ao acesso clandestino, com 16% dizendo ter em casa canais exclusivos de TV por assinatura, sem ter contrato com um fornecedor homologado. Nestas classes o porcentual é de 8%, na B, 10%, e na C, 13%.
A pesquisa não mediu a tecnologia mais pirateada – se cabo ou DTH, por exemplo. Descobriu, porém, que a maioria dos clandestinos têm entre 40 e 50 anos. Concluiu que o nível de escolaridade não implica maior adesão a ligações ilegais e que o conteúdo mais assistido acompanha as tendências da TV paga formal.
A ABTA e a Alianza, associação mundial criada para combater a pirataria, contam que o furto de sinal está mais sofisticado. Uma parcela, não determinada, dos piratas obtém sinal por tecnologia FTA, que usa dispositivos para sintonizar canais informalmente. Outras duas formas depende do uso de palavras chaves, usadas para descriptografar os sinais. Os distribuidores piratas conseguem geradores de palavras, capturam o sinal a partir de um plano formal de TV paga, e enviam direto à casa do usuário pela internet ou, até, por satélite.
Segundo Edson Vismona, presidente do Fórum Nacional de Combate à Pirataria e Ilegalidade, com o furto de sinal “as empresas deixaram de ganhar mais de R$ 24 bilhões no ano passado”. Michael Hartman, vice-presidente de assuntos legais e regulatórios da DirecTV, defendeu que a pirataria deve ser combatida com vigor, pois tem o potencial para destruir indústrias. “Se observarmos o que aconteceu com a música, o mesmo pode acontecer com a TV por assinatura”, comentou.
O estudo, primeiro feito no país para medir com precisão o alcance da pirataria na TV paga, foi feito pela empresa de pesquisa de mercado H2R, em parceria com a Multispectral, a pedido da ABTA. Durante um mês, antes da Copa para evitar flutuações motivadas pelo evento, foram ouvidos 1750 usuários, principalmente do Sul e Sudeste, tanto no interior, quanto nas regiões metropolitanas, distribuídos por todas as classe sociais. A margem de erro é de 2,3%. Os resultados foram apresentados durante o Congresso da ABTA, que acontece em São Paulo até amanhã (7).