23/10/09 – Na edição de agosto da revista ARede, publicamos uma matéria sobre as redes sem fio implantadas no morro Dona Marta e na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro. A matéria falava das mudanças que estão em curso na comunidade Santa Marta, ocupada por forças policiais desde novembro de 2008. O local foi o primeiro a experimentar o modelo de intervenção proposto pela atual gestão do governo do Estado, a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), que trabalha com a ocupação policial das comunidades e com a oferta de serviços públicos: rede de luz, internet, reurbanização.
No dia 14 de outubro, o Observatório de Favelas publicou, em seu boletim, uma matéria em que moradores do Dona Marta reivindicam uma participação maior em todas as mudanças em curso na favela, decididas, de acordo com eles, de fora para dentro da comunidade. Um exemplo dessas mudanças é a instalação de câmeras de segurança no morro, possível graças à presença da rede sem fio que também fornece conexão à internet.
Dorlene Meireles, moradora do morro e integrante do Grupo ECO, organização que atua no morro, diz, na matéria, que não se sente protegida pelas câmeras. “Me sinto, na verdade, vigiada. Em um condomínio as imagens vão para a central do condomínio. Aqui, o morador é filmado o dia todo e isso acaba na Secretaria de Segurança Pública”, afirma. Dorlene sabe da inviabilidade da retirada das câmeras, mas explica que “ainda que estejam dizendo que não adianta, nós não podemos ficar desmobilizados, porque isso é um conjunto de coisas, não é só a câmera”.
A internet não é portadora somente de coisas boas, e a participação da comunidade é fundamental para que qualquer projeto de uso de tecnologia represente, de fato, ampliação dos espaços de cidadania. Esses relatos sobre o Morro Dona Marta são importantes para que as comunidades onde vai funcionar o projeto Rio Estado Digital se mobilizem, a fim de discutir usos da internet que tragam benefícios aos moradores.