Conexão Social – Computador para Todos – A estratégia para dominar o software. E muito mais.

As lojas que venderem o Computador para
Todos terão que prestar um serviço inédito no mercado: o suporte de
funcionalidade para o software, que ensina o usuário iniciante, por
e-mail ou telefone, a mexer nos programas das máquinas. Mais do que um
apoio técnico, é uma ação para a inclusão digital.

O suporte técnico para os consumidores dos softwares do Computador para
Todos traz um serviço inédito ao mercado, pela primeira vez engajado em
ensinar o usuário a mexer nos sistemas e aplicativos da máquina. E para
o qual estão sendo mobilizados desenvolvedores, empresas e integrantes
da comunidade do software livre. O modelo de suporte faz parte da
proposta de inclusão digital dos usuários de baixa renda, um dos
propósitos do programa do governo, que, por isso, também estabelece o
uso obrigatório de plataformas livres e abertas. “É uma aposta na
autonomia tecnológica, com um conjunto de softwares que garantam as
necessidades fundamentais do usuário na rede”, destaca Sérgio Amadeu,
presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI).

Rosa, do Serpro: criando um
serviço que não existe.
Sérgio Rosa, diretor do Serpro e coordenador-executivo do programa
Computador para Todos, lembra que, na fase de elaboração do projeto, a
Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes) questionou a
viabilidade desse suporte: “Disseram: vai ser muito difícil. Respondi
que, realmente, vai ser muito difícil, porque vamos criar um serviço
que hoje não existe”, afirmou. Atualmente, os micros são vendidos com a
garantia tradicional contra defeitos, mas não dispõem de um serviço
gratuito de orientação ao usuário iniciante – o chamado suporte de
funcionalidade.

Durante um ano, as lojas que venderem micros na configuração do
Computador para Todos e com o financiamento subsidiado previsto no
programa terão que prover dois tipos de suporte para software: de
disponibilidade e o de funcionalidade. O primeiro é um atendimento, via
telefone, para ajudar nas instalações, configurações e customizações
dos aplicativos (veja o que vem no Computador para Todos no quadro). Já
o suporte de funcionalidade será oferecido por correio eletrônico (ou
pelo telefone, a critério do fabricante) para apoiar o usuário nas
atividades básicas de operação da microinformática.

As discussões prévias à definição do programa, conta Sérgio Rosa,
envolveram, além do ITI e do Serpro, a Assespro (Associação Brasileira
das Empresas de Serviços, Software e Internet), a Fenainfo (Federação
Nacional das Empresas de Serviços de Informática) e fabricantes. A
Abes, que reúne distribuidores e marcas internacionais de software, se
afastou do debate, segundo Sérgio Rosa, por discordar da preferência às
plataformas abertas.

Convocação geral

Como o suporte de funcionalidade é uma novidade, a sociedade começa a
se organizar para
Maluf, da Sun: treinamento vai
viabilizar uma estrutura nacional
de suporte. assegurar sua oferta massiva. Uma iniciativa
importante, promovida pelo ITI e pela Sun Microsystems, em parceria com
o Ministério do Trabalho e o Serpro, é o programa Técnico Cidadão –
Rede de Jovens contra a Pirataria. São 500 vagas, em São Paulo,
Brasília, Rio de Janeiro e Porto Alegre, para formar jovens com alta
capacitação em plataformas abertas. Para o diretor da Sun, Luiz Maluf,
esse contingente deve viabilizar uma estrutura nacional de suporte a
Linux, a Java, entre outras ferramentas. De 9.532 inscritos, 4.912
fizeram os exames de seleção.

O Portal do Software Livre – Brasil, que reúne desenvolvedores de todo
o país, lançou o Projeto Conhecimento Livre (PC Livre), de caráter
educacional, mantido por voluntários, para promover a iniciação nas
plataformas abertas. Marcelo Akira, um dos seus integrantes, diz que o
objetivo é produzir material didático para consumidores, varejistas e
fabricantes. Já está em produção, por exemplo, uma revista em
quadrinhos, explicando o que é software livre, destinada ao vendedor e
ao usuário. A intenção é montar 23 LabLivros (laboratório de
informática e editora), em diversas capitais, com apoio de instituições
de ensino, fornecedores de hardware e do PSL- Brasil, para oferecer
cursos e publicar os tutoriais. O projeto já tem um portal colaborativo
na internet.

A ameaça corsária

O diretor do Serpo reconhece, contudo, a ameaça dos piratas – de acordo
com a Business Software Alliance (BSA), as cópias ilegais são 57% do
software instalado no Brasil. A pirataria pode atingir o Computador
para Todos, quando o vizinho ou o amigo do trabalho, familiarizado com
as
Akira , do PSL-Brasil: material
didático para vendedores e
compradores.cópias ilegais de programas proprietários, se apresenta para dar um
suporte informal – e troca tudo da máquina, por comodismo ou
insegurança frente a um ambiente novo. “Estamos prontos para enfrentar
os piratas”, avisa Sérgio Rosa.

Além disso, o diretor do Serpro concorda com outros participantes do
painel, que não esperam grandes dificuldades por parte dos
consumidores. “Estão subestimando o usuário e superestimando a
dificuldade”, avalia Carlos Alberto Senna de Lima, diretor da Assespro
e da Metasys — distribuidora Linux, que inclui um treinamento
multimídia pré-instalado nas máquinas dos seus parceiros. “Não é nenhum
mistério”, diz.

Jaques Rozenzvaig, diretor geral da Mandriva no Brasil (fusão
Conectiva/Mandrake), informa que a empresa vende 16 mil treinamentos
por ano e está pronta para o suporte de massa. E o diretor da The
Source, Ralph Braga, defende treinamentos coletivos,  como os
InstalFests (Festivais de Instalação), quando se faz a migração para
Linux em áreas de periferia. Nesses bairros, já há muitas pessoas que
dominam sistemas abertos – os freqüentadores regulares de telecentros.
Em dezembro de 2004, só nas unidades da Prefeitura de São Paulo, eram
625 mil cadastrados. Usuários de baixa renda que já mexem com o Linux.