Conexão Social – Computador e fazenda de camarão

Os Centros Vocacionais Tecnológicos se espalham pelo país e promovem, além de acesso à internet e ensino de informática, capacitação para pequenos produtores.


Os Centros Vocacionais Tecnológicos se espalham pelo país e
promovem, além de acesso à internet e ensino de informática,
capacitação para pequenos produtores.

João Luiz Marcondes

Iniciada no começo do ano passado como projeto nacional, a expansão dos
Centros Vocacionais Tecnológicos (CVTs) deve atingir as cem unidades no
país ainda este ano. A informação é da Secretaria para a Inclusão
Social, vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Os
centros nasceram no Ceará e sua vantagem para um país em
desenvolvimento como o Brasil é que, ao mesmo em que capacitam pequenos
produtores, por vezes quase artesanais, promovem o acesso de pessoas de
baixa renda e baixa escolaridade à internet e às tecnologias da
informação.

“É por esses dois motivos que resolvemos investir em CVTs”, explica
Rodrigo Rollemberg, secretário para a Inclusão Social do MCT. “Além
disso, fazemos com que microempresas e pequenos núcleos de produção
possam aderir ao comércio eletrônico.” No ano passado, o MCT investiu
R$ 25 milhões em CVTs e, até o final deste ano, pretende liberar R$ 50
milhões, segundo o próprio Rollemberg.


Para que um estado consiga ter CVTs em sua região, precisa apresentar
um projeto técnico para a Secretaria para a Inclusão Social.
Atualmente, Minas Gerais é o que concentra maior número de unidades. “É
porque, ali, houve maior interesse por parte das autoridades locais”,
justifica Rollemberg. Normalmente, os recursos do MCT correspondem a
60% ou 70% do total gasto. A partir de novembro, o CNPq (Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) vai oferecer
bolsas para vários profissionais que trabalham em CVTs. Na escolha,
serão avaliados os projetos que contemplem inclusão digital e
capacitação tecnológica.

Os Centros Vocacionais Tecnológicos nasceram no Ceará, a partir 
das fábricas-escolas que, nos anos 80, ensinavam pescadores e
agricultores, entre outros, a processar seus produtos. Para melhorar o
nível desses educadores, foram criados os CVTs, em 1996, pelo então
secretário de Ciência e Tecnologia, Ariosto Holanda. Dessa data até o
ano 2000, foram construídos 40 destes centros no estado. Cada um tem
laboratório de matemática, física, química e biologia (para os
professores), informática e eletromecânica (que formam profissionais
polivalentes nas áreas de automação, irrigação, processos industriais,
etc). Além disso, foram instaladas farmácias, com ênfase em 
produtos fitoterápicos de ervas da região. E salas com 20 computadores
de acesso em banda larga.

Ariosto Holanda, hoje deputado federal (PSB/CE), contou com a ajuda do
professor de Engenharia Elétrica Sérgio Frota. “Nossa concepção de
inclusão digital não é apenas colocar a pessoa na internet”, explica
Frota, que foi chefe de gabinete de Ariosto e coordenador da
implementação dos primeiros CVTs no Brasil, justamente no Ceará. “O
computador tem que ser usado para capacitar a população pobre”. Com o
tempo, vieram as salas de videoconferência e os cursos para alunos da
rede escolar.

Nas contas de Frota, o custo de um CVT é de R$ 1,28 milhão. E a rede
cearense é capaz de dar cursos a 44 mil pessoas por ano. O engenheiro
também prestou consultoria para o estado do Maranhão, onde foram
implementados 20 CVTs, e em Minas Gerais. “Os mineiros conseguiram
evoluir em relação a nós. No Nordeste, político só faz emenda (ao
Orçamento da União, no Congresso Nacional) para construir barragem; em
Minas, conseguiram liberar dinheiro para os CVTs”. No Ceará, os CVTs
dependem de dinheiro do estado e financiamentos internacionais.

Exemplo mineiro



No Rio Grande do Norte, centro
tecnológico para criação de
camarões.
Em Minas Gerais, os gestores públicos dos CVTs procuraram
colocá-los em
áreas estratégicas. “Para cada centro destes, há uma área de dez
telecentros ao redor, em cidades próximas, da mesma região”, explica
William Brant, gerente do Programa de Inclusão Digital no estado. Há,
hoje, em Minas, 21 Centros Vocacionais Tecnológicos. Cada um com dez
computadores e sala de videoconferência, além de incubadora de
empresas, que respeita a vocação regional. Em Governador Valadares,
trabalha-se com gemas de jóias; no triângulo mineiro (onde fica Uberaba
e Uberlândia), carne e derivados; no sul de Minas, com a cafeicultura.
O acesso ao computador é gratuito, mediante apresentação do cartão
“Passaporte da Cidadania”. Para obtê-lo, as pessoas podem se inscrever
no site do projeto.

“Para que projetos como esse não dependam da vontade do político de
ocasião, entregamos a administração, depois de implementado, para uma
ONG ou uma Oscip (Organizações da Sociedade Civil de Interesse
Público)”, explica Brant. Mais 43 CVTs estão sendo construídos no
estado, com R$ 34 milhões do governo do estado, do governo federal e de
emendas individuais de parlamentares.

No Rio Grande do Norte, o CVT servirá para a formação de um centro
tecnológico de carcinicultura (criação de camarões e outros
crustáceos). A verba de R$ 2 milhões virá do MCT (75%) e do governo do
estado (25%). O projeto funcionará através de uma parceria entre a
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e a Empresa de
Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn). Serão
concluídos, ainda este ano, dois laboratórios na cidade de Extremoz, a
20 quilômetros de Natal.

“Nossa idéia é desenvolver a vocação da região na rede escolar e
promover a capacitação tecnológica dessa cultura na comunidade”,
explica Ezequias Viana de Moura, da Emparn, que coordena o projeto. Por
ano, a carcinicultura rende cerca de R$ 65 milhões ao estado. Com o
CVT, serão criados, em um primeiro momento, 12 viveiros, além de
laboratórios para estudos. O projeto vai envolver 50 profissionais e
inclui cursos para a comunidade. “A expectativa é que cerca de mil
pessoas passem por esses cursos por ano”, prevê Moura.

O dinheiro do MCT e do governo estadual só serve para que o projeto
seja implantado. Para se manter, o CVT terá que usar a criatividade.
Além de buscar parcerias, espera-se que 15% do que seja produzido ali
seja revertido em lucro para o Centro. Segundo Rollemberg, a melhor
forma de sustentabilidade destes projetos é a entrega da administração
dos mesmos para a sociedade civil.

www.mct.gov.br/inclusao/ – Secretaria para a Inclusão Social, Ministério da Ciência e Tecnologia. Tel.: 61-3317-7826.