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conexão social – Consultas e exames gratuitos. Marcados pelo site

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Consultas e exames gratuitos. Marcados pelo site

Horas da vida coloca em contato profissionais da saúde e pessoas que não podem pagar por consulta particular

Rafael Bravo Bucco

ARede nº 99 –  julho/agosto de 2014

O ECONOMISTA Aron Babicz, de 62 anos, mora no centro de São Paulo, capital, distante poucos quilômetros da Avenida Paulista, onde estão grandes bancos dos quais poderia ser um empregado. Mas ele não consegue trabalhar. Tem um estreitamento da coluna vertebral que reduz a circulação sanguínea nas pernas e pressiona também os nervos que se comunicam com a parte inferior do corpo. Com a doença, ele perde o controle dos membros e tem dores fortes, amenizadas apenas com morfina.

“Preciso de uma operação, feita por um neurocirurgião”, conta. Para marcar a cirurgia, porém, ele deve passar por uma série de exames. Como depende do Sistema Único de Saúde (SUS), sua primeira avaliação, no Hospital das Clínicas, em São Paulo, vai acontecer somente em novembro. Depois, deverá fazer exames de imagem. “A fila da ressonância chega a três anos”, lamenta.

Babicz é beneficiário dos programas sociais da União Brasileiro-Israelita do Bem-Estar Social (Unibes). Na tentativa de combater a doença e diminuir a dor até que a operação aconteça, ele pediu ajuda à Unibes, que procurou um médico no site Horas da Vidas. Em pouco tempo, ele foi encaminhado ao Instituto Vita, clínica particular de medicina esportiva localizada no estádio do Morumbi. “Gente mais do que de ponta. Tem tudo ali para contusões do esporte, médicos especializados. Nunca um médico tinha apalpado a minha região da coluna como o de lá”, reconhece.
 
O atendimento foi totalmente gratuito. Os exames realizados em seguida, também. Entre o pedido por um médico e a realização dos exames, não passaram mais que dez dias. Assim Babicz descobriu que o mal que o aflige se chama estenose. Poderá tomar os remédios para diminuir os sintomas até que a cirurgia chegue. Intermediando o processo, uma plataforma online, por meio da qual profissionais de saúde podem doar horas vagas a pessoas sem condições de pagar por atendimento particular.

O Horas da Vida é o “filho” social de uma empresa de tecnologia chamada Consulta Click, a qual encontra médicos e agenda consultas particulares pela internet. O Horas da Vida faz o mesmo, com uma pequena diferença: descobre horas vagas que doutores, psicólogos, fisioterapeutas, educadores físicos, dentistas, fonoaudiólogos etc. queiram usar para atender, gratuitamente, a comunidade.

Quem criou o site foi o Dr. João Paulo Nogueira Ribeiro, geriatra de formação e empreendedor por natureza. O site entrou no ar em 2012. “Percebi, com o Consulta Click, que vários horários não eram utilizados. Sugeri usar essas horas para atender pessoas que não podiam pagar”, lembra. Para evitar uma demanda monstruosa (a fila do SUS em São Paulo tem 800 mil pessoas), os atendimentos são feitos apenas a pessoas cadastradas em instituições parceiras. A lista, hoje, tem Associação Santo Agostinho, Apae SP, Casa do Zezinho, Clube dos Paraplégicos, Fundação Bachiana, Lar Sírio, Santa Fé, Saúde Criança, UNIBES, Afroreggae e Instituto Guga.

Desde a criação, cerca de 2,4 mil pessoas passaram pelos atendimentos e exames gratuitos. As instituições fazem uma triagem inicial. Coletam dados e sintomas, fazem um descritivo do estado de saúde do paciente e avaliam o grau de vulnerabilidade social do paciente. A equipe do Horas da Vida determina a relevância do caso. Se tudo indicar uma gripe, por exemplo, não há atendimento. Mas se for um caso crônico, é marcada a consulta com um dos médi­cos cadastrados no site. A partir daí, o doutor encaminha o paciente para exames, doados pelo laboratório Lavoisier, e espera o retorno. Os médicos não precisam acompanhar o tratamento até a resolução do problema, mas é o que acabam fazendo na maior parte das vezes.

O médico que quiser doar consultas deve entrar em contato e preencher um termo de adesão. “Ele passa por validação, checamos o CRM, pra ver se é especialista mesmo. Se esti­ver tudo certo, pode oferecer as horas”, conta o Dr. Ribeiro. As consultas acontecem no consultório, na instituição beneficente, em mutirões ou ciclos de palestras educativas promovidas pelo site. Quem decide é o doador. O site tem cadastrados 350 profissionais, das nove áreas da saúde.

Ribeiro não descarta uma possível parceria com o SUS: “A gente nunca teve diálogo, até agora. Mas isso pode ser feito da maneira mais amigável. Eu vejo o SUS com muito bons olhos. É um sistema interessante, bacana, a dificuldade é o acesso”. Com ou sem parceria, a meta é crescer e proporcionar 20 mil atendimentos, em cinco capitais, até o final do ano. Apoiam o projeto o Centro Cochrane do Brasil, São Judas, Óticas Carol, Dasa, Catraca Livre e NovaSB.

O urologista Cesar Camara, que começou a doar seu tempo no final de 2013, aprova o método do Horas da Vida: “Atendia muita gente que precisava de consulta, mas nunca de uma maneira organizada, nem com a certeza de que a pessoa realmente precisa”. Agora, ele faz três consultas por semana a pacientes encaminhados pelo site. “Eu atendo no meu consultório. E acompanho até o final do tratamento”, conta.

Quem trabalha nas instituições também aprova a ferramenta. É o caso de Jéssica de Oliveira Bocalon, assistente social da Saúde Criança SP. “O sistema é fácil, a gente pede um horário, encaminha um relatório ao Horas da Vida. A gente confirma com a família, que depois nos traz uma carta-consulta, na qual o médico pede os desdobramentos”, relata. A parceria tem cerca de um ano, e, no período, 14 pesso­as da Saúde Criança SP foram atendidas.

http://www.horasdavida.org.br/