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conexão social – Para começar uma história de sucesso

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Para começar uma história de sucesso

Empresas tecnológicas proliferam e aceleradoras como a Wayra abrem caminhos para jovens talentos no Brasil
Áurea Lopes


ARede nº 96 – janeiro/fevereiro de 2014

Boas ideias fazem a diferença, mas não bastam. Em especial, quando se trata de negócios. Muitas vezes, um projeto surge de uma conversa entre amigos de faculdade, sem capital, mas dispostos a investir suor e criatividade em uma oportunidade que lhes garanta um lugar ao sol. Porém, ainda que a proposta seja interessante, há um longo e difícil caminho a percorrer até o sonho virar realidade: avaliar o mercado, montar a estrutura operacional, selecionar o time de vendas, selar parcerias, definir o modelo de negócio, entre tantas outras providências.

A tecnologia é grande aliada para vencer esses desafios. As ferramentas digitais são os principais recursos para iniciar uma vida profissional por conta própria. Cada vez mais, as empresas embrionárias de tecnologia, chamadas de startups, têm como ponto de partida só uma sala e link para a internet. Aos poucos, tomam fôlego, corpo e crescem.

No entanto, há um jeito de essas pequenas empresas evoluírem de forma mais rápida e eficaz: quando passam por aceleradoras de startups. Como a Wayra Academy, inciativa global do grupo Telefônica. Desde que foi lançado o programa, em 2011, foram implantadas 13 academias de aceleração, em doze países. Movimentando um investimento total de cerca de US$ 45 milhões – US$ 13,4 milhões da própria Wayra e US$ 31,3 milhões de financiadores externos – já abrigou mais de 300 jovens empresas, selecionadas entre mais de 20 mil concorrentes.

No Brasil, 28 startups integram ou já integraram o programa da Wayra. Dessas, 60% operam comercialmente e três atuam em outros países. Os investimentos locais, desde 2011, totalizam R$ 7,8 milhões. “Nós conseguimos mobilizar recursos no mercado que essas pequenas empresas demorariam muito tempo para conseguir. Aqui, esses jovens obtêm capital humano, financiamento e parcerias em um curto período. Cerca de 70% das empesas que entram aqui, quando saem, estão remunerando, gerando valor”, diz Carlos Pessoa, diretor da Wayra Brasil. 

A aceleradora, que já recebeu mais de 1.700 projetos brasileiros, apoia as iniciativas em várias frentes. Auxilia, por exemplo, a identificar deficiências na operação e encontrar soluções. Pessoa destaca uma característica comum entre as startups: “Um equívoco bastante frequente é que os novos empreendedores tendem a subestimar a complexidade técnica do negócio”. A aceleradora pode, ainda, ajudar a testar e ajustar o foco do mercado alvo. Foi o que aconteceu com a empresa que chegou à Wayra como uma rede social de voz chamada Vozeiros e depois de um tempo transformou-se na Azuki, especializada em tecnologias para desenvolvimento de aplicativos na nuvem.

Entre os casos mais representativos de aceleração da Wayra Brasil está a mineira Qranio, desenvolvedora de um aplicativo que une estudos e diversão. O usuário responde perguntas sobre diversas disciplinas e a cada acerto ganha moedas virtuais, chamadas de QI$, com as quais podem resgatar prêmios e obter descontos em restaurantes. O período de aceleração da Qranio na academia terminou, mas a empresa continua recebendo apoio e usufruindo da estrutura, em função do potencial do negócio, que teve grandes conquistas como aumento na base de usuários, entrada em novos sistemas operacionais, lançamento do serviço na versão por SMS, expansão do serviço para fora do Brasil etc.

Outro sucesso comprovado: a Bov Control, que chegou à academia em março de 2013 e já está prestes a alçar voo autônomo. Idealizada por dois amigos, a empresa desenvolveu uma solução para dispositivos móveis capaz de coletar e processar dados sobre rebanhos nas propriedades rurais. “Percebemos que faltava informação para a gestão socioambiental. Era difícil monitorar os animais por satélite, saber de onde vinham, para onde iam, qual o impacto ambiental da criação na área. Enfim, não se conseguia fazer um mapeamento do chamado boi pirata”, conta Danilo Leão, um dos sócios. Filho de proprietário rural, o administrador conhece bem a realidade do campo e sabia que havia um nicho a ser explorado no segmento de tecnologia para boas práticas pecuárias. Ele estava certo. O aplicativo foi tão bem aceito que teve um excepcional aumento de demanda: “De julho a dezembro de 2013 tivemos um crescimento de 9,5% por semana”. Em outubro, foi lançada uma versão em inglês: “Sabemos que 30% dos usuários já são de fora do Brasil”, relata Leão.

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O escopo da Wayra Brasil é amplo e diversificado. Na área de educação, a academia abriga o portal Professores de Plantão, que está na academia desde 2011. A plataforma permite ao usuário ter aulas particulares ou tirar dúvidas ligadas a todas as disciplinas do ensino básico e, por enquanto, a alguma matérias do ensino superior. O estudante é colocado em contato com um professor em até cinco minutos e pode contratar aulas por meio de pacotes de minutos. Os recursos multimídia propiciam uma interação em tempo real. A base de cadastros já contabiliza mais de 5 mil estudantes e 4 mil professores de dez das maiores universidades do país.

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“As disciplinas mais solicitadas são as ciências exatas e português”, conta Cínthia Gaban, administradora de empresas que deixou um emprego no banco para investir todo o tempo no portal, junto com sua sócia. Além do aporte inicial de R$ 100 mil, concedido pela Wayra, o Professores de Plantão já captou recursos de mais dois investidores anjos. “Com esse reforço, em 2013, pudemos melhorar o site, implantar o sistema de assinaturas e agendamento de aulas”, diz Cínthia. 

A Intoo, que nasceu em abril de 2013 e começou a operar em agosto desse ano, já conquistou dois reconhecimentos de peso, depois de entrar para a academia Wayra: em setembro, ficou entre as cinco primeiras da IBM SmartCamp Brasil; em novembro, foi a vencedora, para a América Latina, da Innotribe Startup Disrupt. A empresa criada por dois colegas da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo desenvolveu uma plataforma para apoio a pequenas e médias empresas nas operações de crédito, facilitando comparar as linhas disponíveis no mercado e contratar recursos. Para os bancos, a Intoo auxilia a prospecção de novos clientes no perfil adequado a cada banco. “Pesquisas mostram que mais de 80% dos bancos consideram as PMEs estratégicas mas necessitam de estruturas caras, e nem sempre eficazes, se quiserem chegar nesses clientes.

Do lado das empresas, há muita dificuldade de conseguir crédito por falta de informação, burocracia”, alerta Arthur Farache, um dos sócios e diretor-executivo da Intoo. As empresas e instituições financeiras se cadastram gratuitamente no site. “A remuneração da empresa é por comissão nas transações efetuadas”, diz Anderson Pereira, também sócio e diretor comercial da startup.

Em 2013, foi firmada uma parceria com a Mercado Livre, companhia de tecnologia líder em comércio eletrônico na América Latina, para incentivar e financiar o desenvolvimento de aplicações de e-commerce. O Brasil foi o segundo país beneficiado pelo acordo – criado pelo fundo MercadoLibre Commerce Fund, que vai destinar US$ 10 milhões para startups que melhor utilizem o potencial do Mercado Livre a partir de suas APIs. Além do apoio financeiro, o Mercado Livre acompanhará todo o processo de aceleração das selecionadas e o trabalho dentro da Academia Wayra, por meio de mentoria e apoio técnico para desenvolvimento dos projetos.

No início do programa, as convocatórias para concorrer à Wayra eram feitas localmente, em cada pais. Desde meados de 2012, a operação passou a ter caráter global. “O empreendedor pode atuar em outro país, não necessariamente em seu local de origem”, conta Pessoa. Em 2013, a primeira startup brasileira a desfrutar desse benefício foi a OvermediaCast, empresa que faz análise de comportamento do público de vídeo na internet. Criada por dois irmãos, em 2010, a empresa apresentou sua proposta para atuar na Inglaterra e na Espanha. Depois de cinco meses na Wayra, contabilizou um total de análises de 6 milhões de usuários.

O amplo escopo dos candidatos ao programa de aceleração permite também observar as tendências do mercado. Passos conta que, no momento, observa-se uma migração de projetos voltados à web (46% dos candidatos em 2012, contra 24% em 2013) para iniciativas em outras tecnologias como M2M, cloud computing e aplicativos para dispositivos móveis.

As mais novas aceleradas

Duas startups foram selecionadas na edição da Wayra Week Brasil, em novembro de 2013. Uma é a plataforma Codifique, que vem para suprir uma das dificuldades mais comuns nos departamentos de RH brasileiros: encontrar profissionais da área de tecnologia da informação. O site coloca empregadores e candidatos em contato, por meio de funções que qualificam a contratação. Desenvolvedores de software se cadastram no sistema para oferecer suas competências. Empregadores e quem precise de jobs esporádicos postam suas demandas e solicitam orçamentos. O Codifique faz o cruzamento de dados, localiza os candidatos ideais e proporciona a gestão do trabalho.

A outra inciante na Wayra, mas que já começa com 48 clientes, é a 00K, plataforma de comércio eletrônico com múltiplas interfaces e participação em redes sociais. Oferece integração com a API do MercadoLivre para lojas virtuais que tenham um volume mínimo de trinta vendas por dia. A ideia é dar suporte ao gestor na operação de e-commerce para que ele que consiga focar em expor seus produtos da melhor forma para o mercado.

No espaço comum onde os integrantes da Wayra Brasil se estabelecem, o intercâmbio é a marca forte. A academia tem 1.200 metros quadrados onde cada empreendedor tem sua sala aberta, um convite à interação. Além dos escritórios, com conexão ultrarrápida à internet, há uma sala de apresentações, uma sala de reuniões. Mas também uma sala de jogos e uma área de relaxamento para tomar fôlego, entre um desafio e outro.

br.wayra.org