Editorial


Direito ao espelho



Ao contrário do que poderia prever o senso comum, uma pesquisa feita em
152 Pontos de Cultura – hoje já são quase 500 — conveniados com o
programa Cultura Viva, do Ministério da Cultura, a maior parte deles
não trabalha com artesanato. A expressão cultural de maior penetração é
a linguagem audiovisual. Qual a razão dessa opção? É o direito à
criação e à percepção da própria imagem, do direito das comunidades e
indivíduos decidirem como querem ser vistos, de serem protagonistas,
como mostra a reportagem de capa desta edição. São muitos os exemplos
de como os Pontos de Cultura, espalhados pela periferia das grandes
cidades e em cidades pequenas e distantes, trabalham de câmera na mão.
O repórter João Luiz Marcondes foi a Nova Olinda, na região do Cariri,
Ceará, para registrar a produção audiovisual do Ponto de Cultura Casa
Grande.

O grande desafio, agora, é permitir que os cineastas formados nos
Pontos de Cultura encontrem espaço para divulgar o seu trabalho. Desde
outubro, a Radiobrás, por meio de canais de TV paga, transmite aos
sábados, por meia hora, o programa Rede Comunitária. A partir do início
do ano que vem, eles ganham um espaço também na TVE, emissora
educativa. Há outras iniciativas de divulgação dessa produção
audiovisual — a internet é, sem dúvida, a rede mais acessível e mais
democrática.
 
Na produção audiovisual, os jovens de baixa renda estão conquistando
sua identidade e o direito de representação de sua comunidade. E uma
fatia deles está encontrando também um caminho de sustentação
econômica. Já começam a surgir embriões de pólos de produção
audiovisual e um dos mercados mais visados é o de vídeo para celular.

Imprensa popular

A cobertura partidarizada feita pela grande imprensa das eleições
presidenciais reavivou, no país, o debate sobre a necessidade de uma
imprensa popular. Esse é o tema da entrevista com o jornalista Raimundo
Pereira, um dos nomes mais representativos da imprensa alternativa no
país. Ele defende a criação de um veículo de comunicação de expressão
nacional, a partir dos núcleos já existentes e com forte vinculação com
a produção que já existe espalhada pelo país. Raimundo é um dos autores
da reportagem, publicada na revista “Carta Capital”, que mostra como a
cobertura da mídia foi um elemento importante para levar a eleição
presidencial para o segundo turno.

Lia Ribeiro Dias
Diretora Editorial