Editorial

Os avanços da inclusão

Mesmo sem uma política pública estruturada e uma coordenação para potencializar as atividades, o que só agora começa a acontecer, os programas de inclusão digital apoiados pelo governo federal avançaram nos últimos 18 meses. E deram um salto de qualidade, embora as questões centrais, como sustentatilidade, capacitação, conectividade e manutenção de computadores, estejam longe de serem resolvidas. Como mostra a reportagem de capa, as iniciativas que se limitavam à doação de equipamentos aperfeiçoaram-se em direção ao provimento de outros recursos, especialmente formação técnica e logística para articulação das unidades. Cresce a convicção, entre gestores de programas, de que os telecentros precisam ser instrumentos do desenvolvimento e da capacitação locais.

Também os investimentos aumentaram. O governo federal e suas estatais devem investir, neste ano, R$ 472,5 milhões, mais do que o dobro do que foi aplicado em 2005. O número de unidades, que era de 4,4 mil naquele ano, atingiu um total estimado 6,1 mil no final de 2006 e deve dobrar até meados do ano que vem. O principal responsável por esse salto é o programa do kit telecentro, do Minicom, que vai distribuir equipamentos para 5,4 mil municípios, cobrindo todo o território nacional. E todas essas unidades comunitárias terão acesso à internet, bancado pela prefeitura, onde há infra-estrutura de banda larga, ou pelo programa Gesac que, no mês que vem, lança licitação para contratar 20 mil pontos.

Sem um programa articulado de capacitação, iniciativas como essa do Minicom podem ter pouca chance de sucesso. O risco de o governo aplicar mal R$ 130 milhões, o valor da licitação dos kits telecentro, começou a ser afastado com a criação da coordenação das ações de inclusão digital, cuja tarefa é definir uma política pública e dar sustentação aos programas. E um dos pilares da política será a capacitação dos gestores de telecentros. O veículo dessa formação poderá ser o Casa Brasil, que, até por questão de sobrevivência, reorientou o seu foco e quer se transformar em uma rede de centros regionais de formação continuada, atendendo a outros telecentros. O gargalo da conectividade, outro eixo estratégico, vai ganhar um alívio significativo com os novos pontos Gesac. Do total, 9 mil vão para os telecentros. A fila de espera à porta do Gesac é grande, mas a oferta vai ser multiplicada por sete. Os avanço precisam ser comemorados, mas a notícia mais importante é que, com a criação da coordenação da inclusão digital, há chance real de se construir uma política pública, que garanta a sustentabilidade dos programas.

Lia Ribeiro Dias
Diretora Editorial