Editorial

Mudança de rota

ARede nº41 Outubro de 2008 – As iniciativas de reciclagem de lixo eletrônico, no Brasil, aumentam em proporção maior do que as políticas públicas efetivas de preservação ambiental. Nos países do “primeiro mundo”, as regras começam a fechar o cerco — até porque alguns deles são “primeiros” em produção de bens descartáveis e no impulso ao consumo supérfluo. Levantamentos realizados pela Organização das Nações Unidas mostram que, mantido o atual ritmo de consumo, daqui a 40 ano serão necessários 8,5 planetas para absorver o dióxido de carbono produzido pela humanidade. Todo ano são produzidas 50 toneladas de lixo tecnológico, resultado do descarte de celulares, computadores, baterias, no mundo. É hora de convergir esforços para reverter a auto-destruição.

Por aqui, o governo brasileiro pilota um programa de Centros de Reciclagem de Computadores (CRCs), implantados em diversos estados. Máquinas obsoletas dos órgãos governamentais são doadas para reciclagem nos CRCs. Além de recuperar os equipamentos e prepará-los para reutilização, com instalação de softwares livres, os centros têm outra função social: formam jovens para atuar nesse promissor nicho de mercado. No outro prato da balança, as normas regulatórias do descarte de resíduos oscilam entre as pressões da indústria do setor e pareceres dos legisladores.

A mudança de rota de que o Brasil precisa, no entanto, compreende necessidades muito além da ampliação da consciência ambiental. O país também tem urgência de reciclar suas políticas de desenvolvimento, segundo avaliação da economista Tânia Bacelar, em entrevista exclusiva, nesta edição. A especialista em desenvolvimento regional recomenda mais investimentos nas vocações econômicas locais e educação de melhor qualidade, com crianças e adolescentes mais tempo na escola. E, diante do ciclo de crescimento já observado nos resultados mais animadores da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) divulgada em setembro, Tânia alerta: “Precisamos não apenas crescer economicamente, mas distribuir os frutos desse crescimento”.

Novamente, o leme está nas mãos de governos, empresas e sociedade civil. Articulação e diálogo são as cartas de navegação para nos guiar na direção de um país cada vez mais democrático.

Lia Ribeiro Dias
Diretora Editorial