Sonhos que se realizam nas telas
Prêmio Arede 2013 celebrou iniciativas que geram qualidade de vida e desenvolvimento com ajuda da tecnologia.
Texto Décio Trujilo | Fotos Robson Regato
ARede nº 95 – novembro/dezembro de 2013
A entrega do Prêmio ARede 2013 foi marcada pela emoção. Vencedores de projetos de todo o Brasil compareceram ao Itaú Cultural, em São Paulo (SP), para a festa das iniciativas de inclusão sociodigital. Foram 12 premiados: 11 projetos e a Personalidade do Ano. Prestigiaram o evento Sebastião Almeida, prefeito de Guarulhos, Franklin Coelho, secretário de Ciência e Tecnologia da cidade do Rio de Janeiro, Simão Pedro, secretário de serviços da cidade de São Paulo, entre outros.
Áurea Lopes, editora-executiva da revista ARede, ressaltou em discurso que é preciso um olhar renovado dos gestores públicos sobre as iniciativas inclusivas. “O tempo do treinamento em informática acabou… agora é hora de reunir as pessoas em torno de um projeto de vida, de uma vocação local, de um trabalho colaborativo e oferecer a elas um espaço – sim, um telecentro! – onde possam usar a tecnologia para fazer o que quiserem, o que gostarem, o que a comunidade precisar. Aí elas vão aprender rapidinho, e com vontade, a fazer uma planilha de custos. Porque terão um objetivo, um propósito”, falou.
A jornalista disse ainda que falta um longo caminho a ser trilhado: “É preciso levar conexão a assentamentos rurais, a populações ribeirinhas, a comunidades indígenas. Banda larga para todos não pode ser só uma campanha. Tem que chegar de verdade. E rapidamente, em velocidade de fibra óptica, não de linha discada”.
Na homenagem deste ano, subiram ao palco Sônia Varejão e Tadzo Queiroz, esposa e filho de Marco Antônio de Queiroz, o MAQ, falecido em julho. Treze anos atrás, ele criou o blog Bengala Legal. Consultor de acessibilidade na web, ativista social, MAQ também desenvolveu o site Acessibilidade Digital, e foi um dos primeiros cegos a escrever um livro. Ela lembrou o quanto o marido gostava de agir para transformar o mundo: “Ele tinha orgulho de seu trabalho, do pioneirismo de suas ações, de militância nas lutas em que se engajava. Suas palavras de ordem eram acessibilidade, inclusão e direitos”. O público se emocionou e, em pé, aplaudiu e reconheceu a obra deixada por MAQ.
Premiados
A Fundação Telefônica recebeu o prêmio Especial Educação pelo projeto Aula Fundação Telefônica. Na modalidade Setor Público, o Sistema Operacional Guarux, da prefeitura de Guarulhos; a rede de Naves e Praças do Conhecimento, da prefeitura do Rio de Janeiro; o Portal EBC, da Empresa Brasileira de Comunicação; e o Floresta Digital, do Governo do Acre, foram os premiados.
As ações do Setor Privado premiadas foram Escrevendo com escritor, do Instituto Francisca Souza Peixoto; Educando GVT, da operadora GVT em parceria com a Safernet; e Mobile Health, da Ericsson Telecomunicações, em parceria com Faculdade de Medicina da USP, Incor e Laboratório de Arquitetura e Redes de Computadores da Escola Politécnica da USP.
Do Terceiro Setor, os ganhadores foram os projetos Inclusão produtiva de jovens e pessoas com deficiência em áreas urbanas, do Instituto da Oportunidade Social; Agência Jovem de Notícias, da Viração Educomunicação; e o Portal do Núcleo Piratininga de Comunicação.
Integrante da banca julgadora, Bianca Santana, diretora de Educação da ONG Educa Digital, ficou impressionada com a qualidade dos projetos apresentados. “Achei projetos muito relevantes, alguns com histórico importante, como o caso da Viração, que faz 10 anos agora, e outros mais jovens, mas igualmente significativos, como o projeto de Guarulhos. Acho que o Prêmio ARede já se estabeleceu como referência. Esses projetos, que antes eram difíceis de mapear, hoje se inscrevem porque entendem a importância da premiação”, disse.
Marcio Bellisomi, presidente da Prodam, ressaltou que muitas dessas iniciativas podem, e devem, ser olhadas pelos governos para aperfeiçoar e determinar políticas públicas. “Tem vários projetos que precisam inspirar a ação da Prodam. O caso do Mobile Health, que usa dispositivos móveis, nos interessou. Vamos conversar com os autores, pois precisa ser replicado. Entre outros”, comentou.
O prêmio de Personalidade do Ano foi entregue a Simão Pedro Chiovetti, deputado estadual (PT-SP), atualmente licenciado para exercer o cargo de secretário de Serviços da prefeitura de São Paulo, comandada pelo prefeito Fernando Haddad. Chiovetti é responsável pelo projeto Praças Digitais, que prevê a criação de pontos de acesso sem fio à internet em 120 locais da capital paulista.
Até o final de 2013, ao menos 24 praças terão WiFi. Ele também é autor de diversos projetos de lei na Assembleia Legislativa de São Paulo sobre o uso do software livre na gestão pública e adoção de recursos educacionais abertos.
A festa também marcou o lançamento do Anuário ARede de Inclusão Digital 2013-2014. Na quinta edição, a publicação traz radiografias de mais de 40 programas de inclusão social baseados em tecnologias da informação e da comunicação realizadas pelo setor público.
Melodia para sentir na pele
A banda Música do Silêncio foi a atração cultural da noite. Criada há oito anos, é formada por jovens com deficiência auditiva da Escola Municipal de Educação Bilíngue para Surdos (EMEBS) Madre Lucy Bray e jovens ouvintes da Escola Municipal de Ensino Fundamental Marechal Rondon, de São Paulo.
Os adolescentes deram um show que emocionou a plateia, apresentando músicas de Luiz Gonzaga a Tim Maia. A apresentação começou a ser planejada em março. Fábio Coelho, 15, é surdo e está na banda desde 2009. Ele toca surdo, instrumento percussivo. “Eu sentia a vibração da música, não entendia, mas gostava. Aí apareceu o Fábio na escola, dando aula. Minha irmã mais velha participou antes de mim, me contava como era, e me interessei”, conta.
O responsável pelo projeto é Fábio Benvenutto, professor de música. “A gente utiliza tecnologia com estes alunos para que possam perceber afinação e intensidade. É um projeto realizado ao longo de oito anos, em março completa nove. Essa é uma turma nova. Temos 45 surdos em formação”, conta. O surdo leva três anos para tocar na banda. “Além da apresentação pública de banda, temos apresentação de dança com surdos e eles também fazem trilha sonora para filmes. Tudo isso é o projeto Música do Silêncio”, diz o professor. O grupo tem ainda 60 alunos não surdos.