14/07/09 – A Associação de Produtores de Filmes e TV do Canadá (CFTPA, na sigla em inglês) e duas outras associações de produtoras de filmes e conteúdo para televisão defenderam a neutralidade da rede em uma audiência realizada na semana passada pela Comissão Canadense de Rádio, Televisão e Telecomunicações (CRTC, na sigla em inglês), a agência reguladora do setor daquele país. A neutralidade da rede significa que todas as informações que trafegam na rede devem ser tratadas da mesma forma, navegando a mesma velocidade. Este princípio, adotado pelo Comitê Gestor como um dos princípios para internet no Brasil, garante o livre acesso a qualquer tipo de informação na internet. E é combatido por empresas que gostariam de priorizar o tráfego conforme seus interesses comerciais e também de combater a troca de arquivos pelas redes P2P.
A CRTC está realizando audiências para avaliar as iniciativas de estrangulamento feito pelas operadoras Bell, Rogers e outros provedores de acesso no tráfego BitTorrent seus usuários. A filtragem que a Bell faz é parecida com a que a Comcast tentou nos Estados Unidos até ser forçada, pela agência reguladora americana (a FCC), a cessar as interferências nas transmissões de torrent.
No Canadá, no entanto, a reação dos representantes da indústrias de entretenimento foi muito dirente da de seus colegas americanos. A Motion Picture Association of America (MPAA) e o conglomerado NBC Universal apoiaram a Comcast. E deixaram claro que consideram o estrangulamento do tráfego BitTorrent um primeiro passo em direção a um cenário em que os provedores de acesso vão policiar as conexões para combater a violação de direitos autorais (copyright).
John Barrack, vice-presidente da CFTA, disse aos reguladores que o BitTorrent é uma das únicas maneiras de os produtores fazerem seu conteúdo chegar ao público sem a interferência das grandes redes. Sua posição recebeu o apoio da Associação Independente de Filmes e Televisão; da Associação Cinematográfica dos Artistas de Cinema, Televisão e Rádio, assim como de provedores independentes e representantes de movimentos pela acessibilidade.
A Rogers, que tem uma rede de TV a cabo, filtra o tráfego de BitTorrent desde o final de 2005. Mas o Canadá começou a discutir o tema da neutralidade quando a Bell Sympatico admitiu que estava estrangulando o tráfego das redes P2P no segundo semestre de 2007. O debate esquentou quando a Bell começou a interferir não apenas no tráfego dos assinantes de seu serviço DSL, mas a filtrar o tráfego das conexões que revendia a outros provedores de acesso.
A Bell, a Rogers e alguns outros provedores canadenses que admitiram a obstrução do tráfego P2P ganharam um fôlego quando a CRTC decidiu, no final do ano passado, que poderiam continuar atuando assim até haver uma decisão sobre o assunto. A partir daí, a agência começou a realizar audiências para investigar a questão. As audiências começaram em fevereiro é a expectativa é que haja uma decisão antes do final deste ano.
O processo avançou com as investigações realizadas pela FCC sobre o caso da Comcast, no ano passado, quando a empresa recebeu o apoio da indústria americana de entretenimento. Tanto a MPAA quanto a NBC entregaram oficialmente moções de apoio à Comcast. A NBC argumentou que o BitTorrent é usado principalmente para compartilhamento ilegal de arquivos e que filtros mais invasivos de tráfego poderiam impedir o bloqueio de conteúdos compartilhados legalmente.
Mesmo as grande emissoras canadenses têm uma visão distinta das suas similares americanas: a Canadian Broadcasting Corporation (CBC) já testou o uso de BitTorrent para fazer distribuição de conteúdo audiovisdual. E teve seus downloads obstruídos pela Bell e pela Rogers. (Do site canadense Newteevee)