Jornalismo voluntário

*Paulo Markun

O fenômeno não é antigo e talvez por isso não tenha ainda encontrado
nome definitivo ou formato predominante. Mídia Cidadã (citizen media em
inglês); Jornalismo Cidadão, Jornalismo Participativo ou Jornalismo Colaborativo,
são todos, ao fim e a cabo, maneiras de produzir conteúdos (imagem,
texto, som) sobre questões que interessam à coletividade, a partir da
iniciativa voluntária de cidadãos comuns, com ou sem a colaboração com
jornalistas profissionais.

O site cyberjournalism.net apresenta uma lista de iniciativas do
gênero com o endereço de 79 veículos que já operam diferentes modelos
de mídia cidadã em outros países. E o exemplo mais incensado continua
inacessível para os que, como eu, não dominam o coreano. É o site
Ohmynews, da Coréia do Sul, obra de Oh Yeon Ho, experiente jornalista
que lançou o projeto em janeiro de 2000, com a idéia de que, no fundo,
no fundo, “cada cidadão é um repórter”.
Em sete anos, o site ajudou a eleger um presidente, contrariou a
grande mídia local e alcançou um faturamento anual de US$ 12 milhões. A
versão internacional surgiu em 2004. Com aporte pesado de um banco,
instalou uma espécie de versão japonesa e prepara a entrada na Índia. A
redação tem 93 jornalistas profissionais e mais de 20 mil
colaboradores, que geram notícias acessadas diariamente por 600 mil
usuários.

No Brasil, esse novo gênero de jornalismo ainda está restrito a poucas
iniciativas, ainda que os grandes portais apresentem várias janelas que
permitem a publicação de notícias geradas pelos usuários. Sem qualquer
dúvida, o mais bem-sucedido e expressivo representante desse novo
caminho entre nós é o Jornal de Debateswww.jornaldedebates.com.br.
No ar desde 11 de setembro de 2006, ele se apresenta como a recriação
do modelo adotado 60 anos antes pelo semanário de mesmo nome e que
marcou época no período da Constituinte de 1946, tendo exercido papel
relevante na luta pelo petróleo.

Nesses poucos meses, o site consolidou-se como um dos mais democráticos
veículos coletivo de expressão de idéias e opiniões de internautas
brasileiros sobre temas variados, aplicando o mesmo lema cunhado há 60
anos pela publicação original: o de ser uma tribuna livre, onde todos
podem manifestar sua posição, a partir da premissa de que idéias só se
destroem com idéias. O jornal tem 1,8 milhão de visitantes únicos, mais
de 4 mil artigos originais publicados sobre 80 temas e 10 mil usuários
cadastrados. Em parte, é gente que já estava na internet — uma moçada
ávida por participação, protagonismo e visibilidade. Muitos outros
estão entre os que seguem presos ao mundo “antigo”, e também gente
capaz de produzir textos de qualidade, rapidamente. A pauta do site é bem diversificada e sem preconceito.

Experiências anteriores de redes na internet demonstram que elas
apresentam uma curva de crescimento lenta a princípio e exponencial a
partir de determinado momento. E esse ponto ainda não foi alcançado, a
despeito dos resultados positivos. O fato é que ninguém conhece o
caminho das pedras na internet. Padrões consagrados de jornalismo e
coleta de informação foram e continuam a ser derrubados. Acertos
eventuais contam menos do que a correção rápida de falhas e erros. A
internet é implacável diante do imobilismo, da repetição. Estamos
convencidos, sem exagero, de que podemos cumprir um papel relevante
para a cidadania, ajudando a construir a opinião pública.


(*) Jornalista, diretor do portal “Jornal de Debates”, responsável pelo programa Roda Viva da TV Cultura de São Paulo.