Com o programa Computador para
Todos, cresceu para 12 milhões o número de domicílios com PCs em 2006.
Aumento que tem ocorrido, sobretudo, nos lares de menor renda.
Anamárcia Vainsencher e Lia Ribeiro Dias
O aumento na venda de microcomputadores em 2006, primeiro ano de
vigência do programa Computador para Todos, lançado pelo governo
federal no final do ano anterior, já permitia medir o sucesso da
iniciativa. Mas os números disponíveis se referem ao aumento global de
micros vendidos (de 5,5 milhões, em 2005, para 8,2 milhões, em 2006),
beneficiados pela redução da carga fiscal, e não só das máquinas
comercializadas com o selo do programa, ou seja, com preço inferior a
R$ 1.400,00, pacote de 27 aplicativos em software livre e financiamento público para o varejista e cliente final em condições especiais.
Por uma dessas ironias do capitalismo, o número de máquinas vendidas
com o selo, no ano passado, é só estimado, porque o governo não exigiu,
ao dar o benefício fiscal e o financiamento, que os fabricantes
informassem o número de unidades vendidas. E eles, por questões de
concorrência, se recusaram a abrir os dados. Este ano, a informação
passou a ser obrigatória.
A divulgação dos dados da Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílio
– Pnad, relativos ao ano passado, revela que o programa Computador para
Todos teve um efeito muito expressivo na ampliação no número de
computadores residenciais, especialmente nas casas das famílias de
menor renda. Pesquisando a série histórica de dados da Pnad, o
consultor Mario Ripper observou que o acréscimo de domicílios com
computadores vinha sendo mais ou menos constante nos anos pré-2005 —
aproximadamente 850 mil ao ano. Em 2004, 8,45 milhões de domicílios
(16,3% do total) tinham computadores. No entanto, em 2005 e, sobretudo,
em 2006, esse acréscimo se acelerou significativamente. A base de
computadores domiciliares se ampliou em 1,4 milhão de máquinas, em
2005; no ano seguinte, mais 2,21 milhões de micros foram incorporados
às residências, praticamente três vezes o acréscimo dos anos pré-2005.
Com isso, 22,1% dos domicílios dispõem de computadores, num total de
12,072 milhões.
Também chama a atenção o fato de que esse aumento do número de máquinas
tem se dado, principalmente, em domicílios de menor renda. No ano
passado, 89% dos novos domicílios com computadores se encontravam entre
aqueles com renda abaixo de dez salários mínimos. Também em 2006, 9,2
milhões de domicílios com computador (76% do total de casas com
máquinas) tinham acesso à internet. Essa fatia correspondia a 16,9% do
total de domicílios (12,2% em 2004, e 10,3% em 2002). Ou seja, dos
54,610 milhões de residências existentes em 2006, menos de um quinto
estava conectado à internet.
Entre os que conseguem comprar um micro, verifica-se uma forte
motivação de mantê-lo conectado à internet. Tanto que vem aumentando a
porcentagem dos computadores conectados em todas as faixas de renda. Os
dados da Pnad 2006 mostram que 87% dos domicílios com renda superior a
20 salários mínimos tinham computador e, deles, 95% conectados à
internet; na faixa entre 10 e 20 salários mínimos, cai para 75% a
participação das casas com computador, mas a taxa de conexão à internet
é de 87%; abaixo de dez salários mínimos, só 15,6% têm computador, dos
quais 68% com acesso à internet.
Se cai a presença de computador na residência à medida que diminui a faixa de renda, o gap
entre as regiões geográficas do país é ainda mais acentuado. Enquanto
42,2% dos domicílios do Distrito Federal têm computadores, no ano
passado, eles só estavam presentes em 6,5% das residências do Piauí.
Fixos & celulares
Em matéria de serviço telefônico, a última Pnad confirma o que já se
constituía numa tendência: diminui a penetração domiciliar da telefonia
fixa, cresce a da móvel. Assim, aponta levantamento de Mario Ripper,
enquanto o número de domicílios, no país, aumenta, em média, em pouco
mais de 1,5 milhão por ano, o número de residências com telefones fixos
está praticamente estável na casa dos 25,5 milhões, desde 2002. Com
isso, a penetração vem se reduzindo aos poucos: em 2002, os fixos
estavam em 52,9% dos domicílios; em 2006, em 46,8%. Aqui, a penetração
também varia bastante por grande região e por estado.
Quanto ao serviço móvel, o número de domicílios só com celulares
aumentou aceleradamente até 2006, e em todas as classes de renda. Da
presença exclusiva de terminais móveis em 3,7 milhões de residências,
em 2001, o númerou pulou para 5,5 milhões em 2003; 8,5 milhões, em
2004; 12,4 milhões, em 2005; 15,1 milhões, no ano passado. Em outras
palavras, em 2006, 27,7% dos domicílios dispunham somente de celulares,
em relação aos 11,2%, em 2003, e 7,8%, em 2001.
Mais computadores, mais computadores conectados, mais computadores
conectados em altas velocidades. No segundo trimestre deste ano, o
número de conexões em banda larga (acima de 128 kbps) no país, em todas
as tecnologias (ADSL, cable modem, wireless
fixo), totalizou 6.477 mil, com aumento de 36%. De abril a junho de
2007, em relação ao primeiro trimestre, a expansão foi de 8%. Em 12
meses (junho de 2006 a junho de 2007), foram registradas 1,733 milhão
de novas conexões em alta velocidade. Os dados são da sexta edição do
Barômetro Cisco de Banda Larga, pesquisa contratada à IDC. Concorrência
e queda de preços são os principais fatores do crescimento estável do
setor, na avaliação de Pedro Ripper, presidente da subsidiária
brasileira da Cisco.
Com um avanço que deixou para trás a evolução do primeiro trimestre
(4,59%), a Cisco transformou em previsão o que até então era uma meta:
10 milhões de acessos à internet em alta velocidade em 2010. Por faixas
de velocidades, a que mais cresceu (26%) foi a de mais de 1 Mbps,
seguida pelas faixas entre 128 e 256 kbps (+13,5%). No segundo
trimestre deste ano, em comparação com o mesmo de 2006, a queda de
preços para esses dois segmentos foi, respectivamente, de 30% e 12%.
Ripper observa que isso resulta, de um lado, do fato de as operadoras
estarem oferecendo mais banda a valores menores; de outro, de também
colocarem à disposição pacotes com preços mais acessíveis, de olho nas
classes de renda C e D, altamente sensíveis a preços. Essas,
justamente, as grandes beneficiárias de programas como o Computador
para Todos.
Na avaliação da IDC, entre os fatores que aceleram a adoção da banda
larga estão o aumento da penetração de PCs, graças aos incentivos
fiscais (Computador para Todos), financiamento facilitado, queda do
dólar; ao aumento da oferta de banda dentro das mesmas faixas de preço;
maior disponbilidade de conteúdos que exigem maiores velocidades, entre
outros. Por outro lado, inibem a expansão elementos como o preço da
banda larga que, mesmo em declínio, ainda é alto para realidade
socio-econômica brasileira; falta de infra-estrutura de telecom; baixa
cobertura das operadoras de TV a cabo; atraso na implementação da
tecnologia WiMAX.
De acordo com o Barômetro, a penetração da banda larga em relação à
população é de 3,5%. Entre os lares brasileiros, ela é de 13%. As
projeções de vendas de computadores variam, mas todas apontam para
cima. Segundo a IDC, no segundo trimestre deste ano, foram
comercializadas 2,2 milhões de máquinas, 86% das quais desktops, as restantes, notebooks. O volume total do trimestre foi 8% maior do que o do 1º trimestre. E, enquanto as vendas de desktops aumentaram 8% entre o 2º e 1º trimestres deste ano, as de notebooks
tiveram expansão de 32%. Para todo 2007, a previsão da IDC é que as
vendas totais alcancem 9 milhões de unidades, mais 25% do que em 2006.
Em 2008, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e
Eletrônica – Abinee, as vendas podem chegar a 11,8 milhões de máquinas
(mais 17% sobre 2007), dos quais 3,8 milhões de notebooks, com alta anual de 81%.