Prêmio ARede 2014 – Terceiro Setor | Capacitação e formação
Uma história, muitas leituras, saberes compartilhados
Projeto de incentivo à criatividade estimula o uso da cultura digital para ampliar a formação dos professores e as competências dos estudantes
Texto Fatima Fonseca | Foto Divulgação
ARede nº 101 – especial novembro de 2014
TRABALHAR A CRIATIVIDADE e, ao mesmo tempo, incentivar a leitura. Essa é a fórmula do projeto E se eu fosse o autor? que estimula a produção de vídeos e livros digitais por alunos de escolas públicas. “A produção sempre parte da leitura de uma obra, uma vez que o objetivo central é estimular o gosto pela literatura entre crianças e adolescentes”, resume Leila Dias, educadora e presidente da associação Casa da Árvore, ONG que ganhou o Prêmio ARede 2014, por desenvolver ações socioeducativas no contexto da cultura digital.
Criada em 2007, em Palmas, Tocantins, a Casa nasceu com foco em arte, educação e tecnologia. O primeiro projeto – Telinha de cinema, voltado para produção de filmes com celular –, deu origem a um segundo, o Telinha na escola. “O primeiro surgiu como uma atividade para alunos de escolas públicas, no contraturno escolar. Depois percebemos a necessidade de se trabalhar também com professor e aí surgiu o Telinha na Escola”, conta Leila. Implementado em Fortaleza, Recife e Rondônia, o programa fez um circuito em 18 capitais, formando professores dos Núcleos de Tecnologia em Educação (NTE).
A ideia do projeto surgiu durante a implementação do Telinha do cinema, que tem entre as atividades a elaboração de roteiros. “Verificamos que os alunos tinham dificuldade em ler, escrever e criar. Além disso, o projeto era voltado para um público de 16, 17 anos e tivemos pedidos dos pais para os filhos mais novos. A partir da demanda da população e das deficiências dos alunos, pensamos nesse novo projeto”, lembra a educadora. Assim, em 2010 começou com um piloto na cidade de Palmas (TO), por quase dois anos, com estudantes entre 9 e 12 anos, na região periférica de Aureny. Foram duas turmas de 20 alunos cada, por semestre, envolvendo 120 meninos e meninas.
Naquela ocasião, a ONG conseguiu recursos do programa EDP Solidária, do Instituto Energias de Portugal. Também conquistou o apoio da prefeitura de Palmas e, posteriormente, foi contemplada com um edital da Petrobras. Com os recursos de R$ 300 mil da estatal, este ano levou o projeto para Senador Canedo, em Goiânia (GO), onde as atividades estão planejadas até 2015. Somente na capital goiana, 341 crianças e adolescentes e 120 educadores já participaram.
O projeto acontece em uma escola da periferia e na Biblioteca Municipal Arlete Tenório de Castro. Duas vezes por semana os alunos frequentam as oficinas no Laboratório Criativo de Leitura e Tecnologia, trabalhando com o conceito leitor-autor. A obra é escolhida pelos educadores da Casa da Árvore, que têm interação com as escolas. “Fazemos na escola uma exposição, para entenderem a proposta. Conversamos com coordenadores pedagógicos e professores ligados às áreas de português, literatura, redação. Também verificamos quais alunos querem fazer parte do projeto”, explica Leila. A gestão participativa envolve representantes da escola e da Secretaria Municipal de Educação não só nas estratégias de implementação, mas também na avaliação e no monitoramento.
TRANSFORMAÇÕES PEDAGÓGICAS
O passo seguinte é a escolha de um tema. Os educadores da Casa da Árvore fazem a mediação de leitura, discutem a prática com os alunos e orientam pesquisas sobre autor e tema. Aí vem a fase de criação. Existe liberdade para reconstruir a história ou escrever outra relacionada ao tema, adaptar a obra, recriar personagens e enredo, transformando o texto em uma nova linguagem. O resultado é compartilhado nas redes sociais.
“O mais interessante é que o projeto constitui um conjunto de ações que incluem atuação direta com alunos, capacitação de professores e suporte a esses professores para a aplicação das práticas. A ideia é usar elementos da cultura digital para transformações nos projetos político-pedagógicos das escolas”, comenta Aluísio Cavalcante, coordenador geral do projeto
Jornalista e educador social, ele cita a Escola Municipal Vovó Dulce, na zona rural de Senador Canedo, como exemplo do impacto do projeto. Durante a formação de professores, foi identificada a dificuldade de trabalhar gêneros pessoais e leitura de clássicos. “Fizemos uma formação presencial e os professores adquiriram uma nova metodologia para tratar um conteúdo já previsto no programa”, relata.
O resultado foi a leitura de Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, utilizando a escrita colaborativa. As turmas usaram o Whatsapp e o bloco de notas. Além dessas ferramentas, o projeto usa também LibreOffice, GoogleDocs, SMS e Word para a construção de textos; aplicativos e programas de edição de imagens e apresentação interativa (Gimp, Photoscape, PowerPoint, Prezi, PaintBrush, entre outros aplicativos para desenho e edição de imagem no celular indicados pelos alunos); aplicativos para leitura de arquivos em PDF no celular; mapas digitais; ferramentas para e-books (Animated Book, Booker etc.) e para edição de vídeo (Pitivi, OpenShot, Movie Maker, KdenLive, JayCut e YouTube Editor). O Laboratório Criativo tem computadores, smartphones, leitores digitais, lousa digital, impressora/scanner, máquinas fotográficas e projetores.