Prêmio ARede 2014 – Terceiro Setor | Conteúdo de interesse público
Linha direta com a navegação segura
Portal fornece informações para proteger crianças e adolescentes na internet e atende vítimas de violência online
Texto Áurea Lopes | Foto Divulgação
ARede nº 101 – especial novembro de 2014
CRIANÇAS NAVEGANDO na internet não são uma questão polêmica por natureza. Muito menos representam, obrigatoriamente, uma situação de perigo. A presença da tecnologia já é irreversível na vida de todos nós, não se trata de permitir ou proibir, ser bom ou ruim. E isso é muito bom e saudável, até para as crianças, desde que elas sejam preparadas para enfrentar os desafios e riscos postos pela web – assim como acontece em outros lugares por onde circulam, como as ruas, as baladas, as escolas, as estradas do mundo que precisam explorar. O portal Helpline.br, vencedor do Prêmio ARede 2014, foi desenvolvido com esse propósito.
Criado pela organização não governamental SaferNet Brasil, em 2012, é a primeira iniciativa desse tipo no país com foco no mundo digital. Oferece orientação gratuita “de forma pontual e informativa para esclarecer dúvidas, ensinar formas seguras de uso da internet e também orientar crianças e adolescentes que vivenciaram situações de violência online como humilhações, intimidações, chantagem, tentativa de violência sexual ou exposição forçada em fotos ou filmes sensuais”.
Juliana Cunha, coordenadora psicossocial do Helpline, conta que o ambiente virtual é favorável para esse tipo de contato, em especial para interagir com os adolescentes sobre seus problemas. “Não fazemos julgamentos, nem censuramos. Eles também não precisam dar os dados pessoais. Tudo isso os deixa mais à vontade para escrever e participar dos chats”, diz a coordenadora.
Porém, ela faz questão de frisar que não se trata de psicoterapia, nem substitui o atendimento psicológico presencial: “Fornecemos acolhimento e esclarecimentos sobre o uso seguro da internet”. Por isso, são feitas, no máximo, quatro orientações pelo chat ou pelo e-mail. E a partir do segundo contato é preciso um termo de autorização dos pais, conforme determina o artigo 8º do Código de Ética Profissional do Psicólogo.
Os profissionais que fazem a interface com os usuários estão credenciados no Conselho Federal de Psicologia para atendimento de vítimas de violência – como atesta o selo exibido no site, com data de renovação, que deve ser feita de dois em dois anos. Juliana explica que os casos que exigem uma intervenção clínica ou o conhecimento por parte de uma autoridade são encaminhados para órgãos parceiros, como o Ministério Público, os Conselhos Tutelares, a polícia, entre outros. O atendimento acontece de segunda a sexta-feira, das 13h às 19h.
SOFTWARE LIVRE
O site foi viabilizado por meio de um edital da Secretaria de Direitos Humanos, órgão ligado à Presidência da República, dentro de um programa de prevenção à violência sexual. Recebeu recursos de R$ 579.165,10, com contrapartida da organização social no valor de R$ 92.280,00. Hoje, é mantido exclusivamente pela SaferNet, com apoio institucional da operadora de telecomunicações GVT. O portal foi desenvolvido pela equipe de tecnologia da informação da ONG, com ferramentas livres, códigos abertos e criptografia.
O Helpline contabilizou, de janeiro de 2012 a setembro de 2014, 3.047 atendimentos. Entre as demandas (ver quadro abaixo), destacam-se 19% referentes a ciberbullying (constrangimento via canais digitais) e 12% a sexting (exposição de imagens de nudismo). Juliana alerta: “Os casos de sexting triplicaram desde o ano passado. Essas fotos e vídeos sempre acabam vazando”. E também revela que o ciberbullying acontece predominantemente entre pessoas conhecidas. A única forma de proteger crianças e jovens dessas situações, diz a psicóloga, é municiá-los com informação e orientação.