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Novas plataformas permitem configurar ferramentas de relacionamento na web



Novas plataformas permitem configurar ferramentas de relacionamento na web
Sérgio Amadeu da silveira

As redes sociais
crescem na internet e parecem que mal iniciaram seu destino manifesto. Há poucos anos eram chamadas de sites de relacionamento. No Brasil, o Orkut chegou em 2004 e atraiu milhões de internautas, fazendo a língua portuguesa predominante entre seus integrantes. O sucesso desses sites, mais recentemente, fez com que fossem reclassificados como mídias sociais. Assim, tornaram-se elementos vitais da web colaborativa, a web 2.0. Em meio ao crescimento do Youtube, do MySpace, do Facebook, entre outras redes, a publicidade chegou tarde, mas descobriu que o internauta não é um mero receptor, um alvo para suas mensagens. O internauta é um “interagente”. Uma parte significativa da rede quer participar e se relacionar, construindo novos amigos ou novos aliados a partir do ciberespaço. 

Barack Hussein Obama não foi apenas o primeiro negro a se eleger presidente dos Estados Unidos. Foi também o primeiro presidente estadunidense eleito a utilizar as redes sociais como instrumento central de campanha. Esse fato inegavelmente consolidou a importância dessas redes, apesar de prefeitos como o de São Paulo proibirem o seu uso nas escolas. Independente dos arroubos obscurantistas, muitos educadores e ativistas têm utilizado as redes sociais em suas ações educativas, de inúmeros modos e a partir de diversos métodos. Fortalecendo ainda mais a disseminação do seu uso, Marc Andreessen e Gina Bianchini criaram o Ning (www.ning.com), uma plataforma que permite que os internautas criem suas próprias redes sociais, ou seja, as pessoas podem criar não apenas suas comunidades dentro dos moldes de uma rede social, podem personalizar e definir como deve ser sua própria rede de relacionamentos. A plataforma do Ning é programável e reconfigurável. 

Alguns chamam Ning de uma plataforma de gestão de redes sociais. Assim, é possível escolher que tipo de ferramentas e recursos serão integrados em uma determinada rede social, desde aplicações do Google Map até ferramentas de nanoblogging ou de voz sobre IP. O Ning permite a integração de tudo que está disponível no ciberespaço, ou seja, dos novos e velhos widgets, com todas as suas funcionalidades. O sucesso do Ning é crescente entre vários tipos de grupos sociais, de ativistas a empresas. Estas, descobriram que no mundo da comunicação em rede é importante articular aqueles que têm afinidades, é fundamental estar próximo do maior número possível de consumidores, pois relacionamento é um componente importante de poder, em todos os sentidos. 

Um bom exemplo de uso educacional do Ning tem o nome Video Games as Learning Tools (Video games como ferramentas de aprendizado). É uma comunidade de educadores que buscam explorar o potencial dos jogos na sala de aula. Provavelmente, muitas pessoas que estão ali compartilhando suas visões e experiências nunca teriam se conhecido sem a existência daquela interface de relacionamento. Muitas idéias excelentes sobre o uso dos games no processo de ensino-aprendizagem poderiam continuar isoladas, sem receber críticas e novas opiniões, sem repercutir e poder ser apropriadas por outros educadores. 

As conversas que aconteciam apenas nos encontros presenciais, nas conferências, nos seminários, nos eventos, estão acontecendo no ciberespaço e as redes sociais são o meio para ligar pessoas que têm os mesmos interesses, motivações, preocupações e ideais. A importância das redes de relacionamento é tamanha que existem várias plataformas disponíveis, o Ning é apenas uma delas. É possível utilizar plataformas inteiramente livres, ou seja, aquelas em que o internauta tem acesso ao código fonte e pode instalar em seus próprios servidores. Como um bom exemplo, temos o LovdbyLess, plataforma Open Source para a construção de redes sociais (http://lovdbyless.com). Tal como os blogueiros têm o WordPress e o Mephisto para construir blogs em software livre, LovdbyLess é uma solução em código aberto, construído com Ruby on Rails, disponível gratuitamente para ser instalado em qualquer servidor. Ruby on Rails é mais que uma linguagem, é uma metaplataforma-de-trabalho que permite aumentar velocidade e a facilidade no desenvolvimento de sites orientados a banco de dados (database-driven web sites), uma vez que viabiliza a criação de aplicações com base em estruturas pré-definidas (http://pt.wikipedia.org/wiki/Ruby_on_Rails).

Existem outras plataformas em código aberto, tais como Elgg, PHPizabi e BuddyPress. Muitos internautas que usam o WordPress não sabiam que essa ferramenta de publicação de blogs pode se tornar também uma plataforma de redes sociais. Existe o WordPress MU ou WordPress Multiusuário. Trata-se de um sistema para gerenciamento de blogs (http://mu.wordpress.org). É possível instalá-lo em qualquer computador e criar não apenas um, mas vários blogs. A novidade é que o BuddyPress transforma o WordPress MU em uma plataforma de criação de redes sociais (http://buddypress.org). Basicamente, o BuddyPress trabalha com um conjunto de plugins específicos que dão novas funcionalidades ao WordPress MU. Cada plugin adiciona uma nova característica para BuddyPress. O interessante é que o internauta pode moldar a sua rede social do modo que quiser. Como o código-fonte do BuddyPress é aberto e livre, a comunidade acaba desenvolvendo inovações que são compartilhadas na rede.

Sérgio Amadeu da Silveira é sociólogo, considerado um dos maiores defensores e divulgadores do soft­ware livre e da inclusão digital no Brasil. Foi precursor dos telecentros na América Latina e presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação.